domingo, 28 de novembro de 2010

Diário de Hilda

"Deus fez crescer a uva no parreiral, meu braço pode alcançar os frutos, sem proibição. É coisa da natureza. As ameixas também. Os figos. As gabirobas. Os bacuparis. As pitangas. Se quero flores, corto quantas quiser e arrumo-as no vaso, enfeitando meu dia. A água do rio me recebe nua, como quem acaricia. O cavalo me leva aonda eu desejo. minha fome eu sacio à mesa, cheia de coisas gostosas e belas. É isso que me vem como uma explosão cá dentro, fundo, imperioso. Por que os homens codificaram as leis rígidas? As pessoasl vêem com repugnância. Os lambaceiros, com apetite. Mas eu, se olho um homem e sinto aquilo cá dentro, que me importa? Não posso conceber que seja um pecado. Então seria pecado colher as rosas, as frutas e me fartar do mel das abelhas. Tudo é natureza viva. E foi a natureza que me deu esse direito. Eu me deito com um homem que me dê prazer, e jamais vou entender outra coisa. Que culpa tenho eu se não entendo? Por que Deus não me chama e não me explica esse fenômeno? Essa cisa de fruto proibido, Adão e Eva, pecado original, o feio que está em mim e em todos os homens que ele criou?  Eu tenho amor que passa, como quando desejo e saboreio uma gabiroba madura.  E quem é que faz tudo isso crescer em mim? Sou eu? Quem é que faz a rosa? Sua perfeição. Suas cores. Seu perfume? Quem é que faz crescer no ventre de uma mulher uma criança? Quem fez a virgem para ser violada? Quem fez a vida para ser vivida? Foram os códigos? Bom. Se foi Ele, o Deus, tudo está certo, claro e correto. Quem é que vai meter o contrário em minha cabeça? Às vezes eu penso que é uma procura. Como quem procura o pedaço de um dedo mutilado. Um agulha dentro de um palheiro. [...].
Eu vejo o amor dos pássaros. Dos animais também. Que código lhes rege a vida? Eu estudo botânica. Sou fascinada pela loucura de amor dos tamarindeiros floridos que se servem do vento para se fecundarem. Eu sou como o vento. Acho mesmo que sou ele próprio. Ninguém me mudará. Ninguém. Sou apaixonada por essa selva do Brasil. Por que não nasci índia? ..."

O Guarda-roupa Alemão, de Lausimar Laus.
Anotações do meu caderno, por isso sem mais informações a respeito do livro.

1 comentários:

Amanda Riesemberg disse...

Como o vento: http://www.youtube.com/watch?v=0swhjw8E_88 hahaha

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